Desde que assumiu o posto de secretária de Políticas Públicas para as Mulheres de João Pessoa há oito meses, Nena Martins visita as comunidades da Capital com o propósito de conscientizar as mulheres pessoenses sobre a violência contra a mulher e, principalmente, ouvi-las. E nesses bate-papos Nena conheceu a realidade das mulheres em situação de vulnerabilidade social, que em muitos casos não tem o entendimento de que estão sendo vítimas de violência doméstica.

No ‘Agosto Lilás’, mês voltado conscientização pelo fim da violência contra a mulher, a secretaria promoveu a ação denominada ‘rodas de conversa’ em comunidades carentes e residenciais de João Pessoa. As mulheres eram reunidas e seus relatos ouvidos por uma equipe de multiprofissionais com psicólogas, advogadas e assistentes sociais com o objetivo de orientá-las. E nesse momento, Nena Martins descobriu que muitas daquelas mulheres normalizavam as agressões sofridas pelos companheiros, sem saber que era uma prática criminosa.

“Violência doméstica? Mas não é normal o que eu vivo no dia a dia?”, questionavam as mulheres às profissionais da secretaria, antes dos olhos se encherem de lágrimas ao entenderem a sua realidade.

“Relatos de mulheres que diziam assim: ‘Eu sou destratada pelo meu companheiro que eu amo de paixão? Sou apaixonada, já me botou para fora de casa várias vezes, mas como é que eu vivo sem ele?’. E mostrando marcas no corpo”, revelou Nena, salientando que o seu papel não é separar casais mas sim orientar.

Nesse quesito entra o ‘Papo de Homem’, outra iniciativa que a pasta pretende implantar direcionada ao público masculino. A secretária explica que não basta somente as mulheres serem orientadas, os homens também precisam ter a consciência do quão erradas são as suas atitudes machistas. “Não adianta a gente conscientizar as mulheres mas os homens continuam fazendo as mesmas coisas”, pontuou.

Infelizmente, a maioria dos casos de violência contra a mulher não são denunciados as autoridades competentes e o motivo maior é o medo. O receio de perder seu único lar, de não ter condições financeiras para sobreviver e por isso são forçadas a aguentarem as ameaças diárias.

“A violência física todo mundo tem noção de que é uma coisa muito grave. Nós temos a violência sexual que é quando a mulher não quer qualquer tipo de ato sexual ou qualquer tipo de comportamento e diz não. Tem a patrimonial que, muitas vezes, alguns companheiros pegam tudo que a mulher tem e acha que tem que controlar. A violência psicológica é a pior porque afeta a mulher para o resto da vida”, pontuou Nena Martins.

E para acolher essas mulheres que sofrem com a violência doméstica existe o Centro de Referência da Mulher, um espaço no qual as vítimas podem ser assistidas por psicólogas, assistentes sociais, advogadas, terapeutas e pedagogas. A secretaria salienta que o Centro não é lugar de denúncia, as mulheres chegam até elas encaminhadas pela Delegacia da Mulher ou, até mesmo sozinhas, em busca de orientação.

“As mulheres são assistidas por psicólogas, orientadas também pelas assistentes sociais, descobrimos qual o perfil daquela mulher, o que é que ela mais necessita e partir daquele momento a gente começa a encaminhar para os órgão competentes e as questões devidas”, explicou Nena, ressaltando ainda que o Centro também tem a responsabilidade de reinserção dessas mulheres na sociedade, disponibilizando cursos profissionalizantes e encaminhando-as para o mercado de trabalho.

Sobre suas ações na Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres de João Pessoa, Nena Martins frisa: “Nós lutamos pelos direitos. Eu luto pela igualdade. Eu não luto para que alguém seja mais do que o homem”.

Assista à entrevista completa com Nena Martins:

Fonte: Blog do Dércio